Feira das boas

Sou um romântico das feiras. Adoro o ritual de pegar as sacolas retornáveis e ir à luta dos ingredientes que são matéria-prima do semi empirismo que acontece na cozinha lá de casa. Claro, sempre com a companhia insubstituível da minha marida, a Vanessa, que se diverte tanto quanto eu com o alto astral e simplicidade dos feirantes.

Até duas semanas atrás, nossa rotina era ir para o Ceagesp a cada duas semanas. Numa dessas comprinhas pontuais que rolam pra manutenção da casa, a Vanessa se revoltou com os preços do Hortifruti da Hélio Pelegrino e acabou descobrindo uma feira imperdível numa travessa da Bandeira Paulista (sim, ela caminhou pra caralho). Ela acontece todas as terças, logo atrás do Kinoplex da Joaquim Floriano (dê uma olhadinha no Street View logo abaixo) e, na hora da chepa (começa lá pelo meio-dia), os preços ficam realmente incríveis. A feira é bem organizada e oferece uma variedade interessantíssima. Para aqueles que adoram vasculhar, é uma diversão e tanto. Encontramos bandejas de shitake fresco e aspargos por R$ 2. Quase inacreditável.

Vale a pena organizar a rotina e aproveitar o custo benefício da feira. Fica na rua Professor Tamandaré Toledo.

Timm no E.A.T.

Recebi um email de um amigo falando sobre a semana dos restaurantes. Um evento bem interessante, principalmente, pra quem mora em São Paulo. Me empolguei com a notícia, mas acabei entrando em uma rotina nefasta de trabalho, que me impediu de pensar em uma maratona gastronômica digna de alguma honra.

Segunda de manhã, recebi um amigo escritor e redator da minha agência, André Timm, que me estimulou a dar um pé na bunda da rotina. Nessa de não deixar a vida passar, decidimos jantar em um lugar inédito para ambos. Sem grandes pretensões e na expectativa de aproveitar a promoção citada na internet, entramos no site e fizemos o primeiro filtro na busca de um restaurante de cozinha mediterrânea. Sem muito saco, acabamos optando pelo E.A.T. (detestei os pontos entre as letras), que promete uma “casual food”. Seja lá o que isso possa significar, decidimos encarar a bronca.

Chegamos em um ambiente contemporâneo e que ganhou nossa simpatia na hora. Pé direito alto, luz na medida certa, sem aperto de gente louca e sem noção. Gostamos.

Timm decidiu se encaixar no pacote da semana dos restaurantes e eu decidi fazer uma extravagância pra compensar dias sofridos de tropeços da vida. De entrada, ele encarou um carpaccio de abobrinha com amêndoas e, eu, polvo marinado no azeite com molho à base de limão, vinho branco, ceboulete, salsa, dill, mostarda de dijon e mais alguns ingredientes que o Chef Fernando Costa não se atreveu a revelar. Azar o nosso, pois foi a melhor pedida da noite. Seguimos a aventura acompanhados de moussaka de berinjela marinada, lâminas de batata e paleta de cordeiro moída. Uma lasanha para ignorantes, mas uma delícia pra gente sensível de paladar apurado. Além dessa beleza, linguini com camarões, aspargos in natura, vinho branco e ervas frescas. Um prato saboroso, mas menos expressivo que a moussaka do amigo Timm. Não sei se fui regado de algum tropeço na cozinha, mas senti uma leve desconexão entre discurso e realidade, no entanto, não me senti lesado pela experiência. Pra finalizar, bem-casado com sorvete e cheese-cake com calda de amora. Bom, bom, bom.

Diria que tive uma noite a ser levada a sério enquanto registro gastronômico do Da Boca Pra Dentro, ainda mais, depois de amaciar minhas percepções com um bom chardonnay que, apesar de novo, mandou bem na composição da noite.

Saímos de lá mergulhados no melhor papo pra um jantar de meio de semana, que representa a fuga de mentes cansadas e inquietas pela oportunidade de viver. O que posso dizer, é que não devemos, como diz meu amigo Timm, dar muita margem à procrastinação. Vamos tratar de aproveitar a vida, antes que o tempo passe.

E.A.T. Casual Food fica na rua Pedroso Alvarenga, 1026, no Itaim. Dá um pulo lá e aproveita o menu especial de carpaccios. Gostei da proposta.

Um pedaço de Nápoli perto de casa

Marina di Vietri é uma das boas descobertas que fiz esse ano. Um pequeno restaurante italiano, de um senhor vindo de Nápoli. Ambiente modesto e com a proximidade que se costuma ter naquelas comunidades italianas em que as pessoas se conhecem, falam alto e riem para dar um novo gosto à vida.

O menu a la carte traz, de cabo a rabo, pratos super bem executados com um toque de cuidado de casa. O couvert é uma maravilha composta de abobrinhas e beringelas tostadas, tomates assados e minúsculas cebolas grelhadas, acompanhados de pãezinhos italianos quentes. 
Durante o dia, eles oferecem o menu executivo que, além de uma resumida opção de pratos, tem uma entrada de carpaccio ou uma salada mista das honestas, nesse pacote, inclui a sobremesa, entre elas, um tiramissu que parece ser alma-gêmea de um bom café espresso.
Os pratos variam de R$ 25 a R$ 50, transitando do famoso pesto (sem economia nos deliciosos pinoles) ao raviole de cordeiro na manteiga com sálvia. Vale a pena tirar um dia da semana para desvendar o cardápio desse pedaço da Itália que fica na rua Miguel Calfat, duas quadras depois da Clodomiro, sentido Itaim. Funciona ao meio-dia e à noite.
Vai lá, regue tudo com azeite e perca a moderação.