Preconceito no AK

Essa noite, tive meu primeiro encontro com um cara que conheci pela internet. Depois de muito papo remoto, mensagens instantâneas e telefonemas, decidimos jantar juntos e fazer a vida acontecer em sua versão analógica. Nos encontramos no Restaurante AK, lá na Vila Madalena. Fomos super bem recebidos, pedimos um vinho e, logo em seguida, os pratos. A comida não foi um espetáculo, mas estava com uma boa apresentação (pouquíssimas opções vegetarianas, caso interesse a informação). Depois de um jantar regado à muito papo, acabamos nos beijando. Logo em seguida, fomos abordados pelo senhor que cuida da porta, nos repreendendo por se tratar de um “ambiente familiar”. Num impulso apaziguador, aceitei o recado, no intuíto de evitar qualquer constrangimento nesse primeiro encontro. Ainda bem, estava acompanhado de um cara menos tolerante em relação a preconceito contra homossexuais, que não aceitou aquela incabida manifestação. Observei a reação dele, pensei por segundos e entendi o que se passava e o que deve ser feito numa situação como essa. Com toda a elegância, meu novo amante (adoro esse termo!) contra argumentou dizendo que um casal hetero não seria abordado dessa forma se tivesse dado um beijo na intensidade do nosso e que se houvesse qualquer problema em um casal gay fazer demonstrações de carinho, o gerente da casa poderia falar com a gente diretamente. Foi desagradável e demonstrou a miopia de um senhor que estava lá representando a mediocridade dos “bons costumes”. Aquela que reprime o que existe de mais brilhante e espontâneo nas pessoas, porque existe um modelo pra tudo: o modelo de família, o modelo de sucesso, do que é ser uma pessoa amada, da beleza. Todos esses modelos que criam traumas e aprisionam as pessoas.

Não houve excesso, não houve amasso. Houve beijo.

Em pleno decreto dos direitos da união civil entre homossexuais – que representa um passo gigantesco na história do Brasil -, um restaurante que se julga “descolado”, manifesta sua pretensão e pequenez em tempos onde o mundo se reconfigura, onde a coletividade e as diferenças se entrelaçam, na tentativa de formar uma sociedade capaz de oferecer espaço a qualquer ser humano. Essa pode não ser a opinião dos proprietários e do maitre (que se desculpou de maneira muito gentil, quando falamos com ele na saída), mas em algum momento, o senhor equivocado da porta acreditou ter o poder ou espaço para assumir aquela posição.

Um ambiente familiar. Desculpe, mas o que é um ambiente famíliar? O que é uma família? O que determina isso? Se o argumento for de cunho religioso, te digo que sagrado é o respeito. E o amor.

Não voltaremos ao AK e alertaremos nossos conhecidos que acreditam em uma nova consciência. Vaias pro AK.

5 pensamentos sobre “Preconceito no AK

  1. Caro Douglas,
    Acabo de chegar ao AK, e tive a péssima notícia, que o sr. sofreu preconceito em meu restaurante.
    Gostaria, de em primeiro lugar, deixar clara minha postura em relação ao assunto:não tenho nenhum tipo de preconceito em relação a ninguém!
    A nossa casa tem a clara intenção de ser democrática. tanto em relação aos clientes como em relação a seus funcionários. A casa não compactua, em nenhuma esfera com a atitude do funcionário que estava do lado de fora do restaurante e não tem autorização de entrar em meu estabelecimento, sem o aval do gerente e aborda-los, da forma descrita.
    Se possível, gostaria saber se poderíamos nos falar por telefone, o número do AK, aonde estou é 32314496/32314497, para que possamos conversar.
    O funcionário já assinou uma advertência, e provavelmente será demitido, porém antes
    gostaria que ele fizesse um pedido formal de desculpas a vocês.
    Peço desculpas também em meu nome, e em nome do meu restaurante.
    E comprometo-me a treina-los cada dia mais, e melhor para que uma situação dessas, jamais volte a ocorrer.
    Andrea Kaufmann

  2. Em pleno século XXI e em uma cidade de apelo cosmopolita ainda temos que vivenciar esse tipo de situação? Realmente lamentável!

  3. Podemos orientar sempre nossos funcionarios , mas nunca poderemos fazer com que cabeças mediocres como a deste senhor preconceituoso,que certamente tomou uma atitude individualista e 100% pessoal mude.
    Como proprietário de restaurante entendo a insatisfação do cliente, mas acho que podemos ter um bom senso em entender que a atitude foi pessoal e não orientada pela casa,ao contrario,a atitude foi imediatamente repudiada pela casa .
    abs

  4. Sonâmbulos, sempre os há. Não há dúvida de que a situação foi lamentável e ridícula. Além de tudo ela é injustificável, pois, ainda que a atitude tenha partido de uma iniciativa pessoal, quando uma empresa contrata um funcionário deve lhe dar um mínimo de orientação quanto às regras do estabelecimento – ainda mais em empresas que têm contato com o público.
    Contudo, foi louvável o pedido público de desculpas prestado pelos donos do restaurante.

    Jamais devemos ser complacentes com o preconceito; seja onde for, seja para quem for, seja de que ordem for.

    Parabéns pelo blog, Douglas! ;)

  5. O AK Restaurante mais uma vez confirma sua Homofobia, demitiu sem justa causa um funcionário que exercia a função de caixa e outras funções de confiança, em virtude da sua condição de saúde , por ser portador do vírus HIV – AIDS. Hoje tramita processo na 30 vara trabalhista do fórum da Barra Funda. Audiência marcada para Setembro 2012. Outro caso arbitrário também em juízo, foi de uma funcionária, também do mesmo restaurante, a qual foi demitida em pleno direito de Licença Maternidade. Absurdos, para quer tanta fama?

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