Descoberta supimpa em Curitiba

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Fazia tempo que eu não me empolgava tanto com um restaurante novo. Pois bem, vim visitar meus amigos queridos, Tati e Edilson, que acabaram de trazer ao mundo a Yasmin. A primeira refeição dessa passagem foi no New York Cafe, um bistrô-meio-café-meio-restaurante-meio-pub e completamente interessante.

Eles têm um cardápio de tirar o chapéu, com informações super claras sobre os produtos, identificando tudo que é vegetariano, vegano e sem glúten. Tão importante quanto oferecer esse tipo de informação, é sair do óbvio na composição dos pratos. Nesse quesito, eles são puro rock’n roll! Quase tive uma congestão em função da afobação por provar as ditas ofertas veganas.

Tomates verdes fritos empanados e salpicados com lemon pepper como belisquete, sanduíche de hommus com cogumelos e folhas verdes, tudo abraçado por um pão caseiro feito com cebolas caramelizadas. Digníssimo! Pra beber, uma espécie de soda italiana, mas melhor. Morango, limão siciliano e água levemente gaseificada. Pra fechar com chave de ouro, uma sobremesa de massa folhada com recheio de merengue vegano e cobertura de frutas vermelhas, recomendação do garçom vegano que nos atendeu super bem. 

Em resumo, quase perdi a compostura pelo excesso de comida que pedi. No fim, a famosa frase “por favor, embrulha o restante pra viagem”, pra que o final não fosse tão trágico. Detalhe: tudo é feito lá e com preços super justos. É imperdível! Agora, escrevo para vocês com um sorriso no rosto por ter pisado com o pé direito em Curitiba, depois de quase 4 anos sem aparecer por aqui. Os queridíssimos amigos e a pequena Yasmin tornaram tudo ainda mais especial, porque são eles a mais plena razão do meu regresso.

Novo tripulante no Da Boca Pra Dentro

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Já faz um tempo que não dou as caras por aqui, mas não tem dia que eu não pense em comida e, consequentemente, no Da Boca Pra Dentro. Venho marinando em um desejo de resgate na rotina saborosa do blog e da página, mas faltava um tempero pra voltar. No meio de conversas sobre comida e do desejo de falar e escrever sobre comida, é que rolou o convite do Gui Zamarioli ser um colaborador do Da Boca Pra Dentro.

A partir de hoje, dia 4 de outubro, Gui começa a salpicar no Da Boca Pra Dentro suas odisséias gastronômicas e, juntos, vamos alçar novos vôos nesse sítio tão querido.

Seja muito bem-vindo, Gui!
Que seja uma temporada linda e cheia de sabores!

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Um encontrinho bem australiano

Sexta é sempre um bom dia para celebrar, seja com amigos ou na melhor companhia de si mesmo. Nessa ocasião em registro, amigos queridíssimos me presentearam com sua companhia, regada de bom papo e alguma loucura. Alex e Will, direto de Melbourne, e Tubi, direto do mundo, com escala em São Paulo por tempo indeterminado. De casa, a maravilhosa marida e meu Peposo em forma de homem-delícia.

Logo que combinamos esse encontro de delícias em minha casa, fiquei matutando o que poderia ser o cardápio da noite. Premissa número um: coisinhas para beliscar que eu já pudesse deixar prontas pra curtir os amigos sem me preocupar. Premissa número dois: serem deliciosas.

Vejam o que aprontei:

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01. Abobrinhas assadas em lâminas com tomilho e servidas com amêndoas em lâminas tostadas.

02. Mix de shitake e shimeji com ervas, alho e limão siciliano.

03. Alho assado com sal grosso e especiarias.

04. Pasta de feijão germinado com limão siciliano.

05. Pesto de salsa com avelãs (minha especialidade!).

06. Mix de pimentas curtidas no azeite extra virgem (especialidade da Vanessa!).

07. Pasta de abobrinha com avelãs tostadas e especiarias.

08. Cebolas caramelizadas com molho agridoce de mostarda.

09. Tomates verdes assados com alho e tomilho.

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Pra acompanhar, pão de nozes do Olivier Anquier (um dos meus favoritos), pão italiano e pão folha (a melhor companhia das pastinhas!). Foi uma noite de regozijos com tudo que se possa esperar de um grande encontro de amigos que se querem bem. Enchemos a cara de vinho e a barriga com comida vegana de primeira qualidade.

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Todos saímos felizes e eu, ogro, acordei duas vezes durante a madrugada quase tendo uma congestão de tanto comer. Perde-se a noção, alimenta-se os amigos e leva-se memórias pra vida inteira. Não consigo imaginar algo que possa fazer a vida valer mais a pena.

E o cenário que abraçou toda essa história: boa luz, plantas e arte. Precisa mais?

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Dumplings vegetarianos no caldo de cogumelos

Dumplings vegetarianos no caldo de cogumelos

Conheci essa delícia em uma viagem que fiz para a Austrália e, desde então, entro em temporadas que morro de desejo por comer essas maravilhas, mas aqui no Brasil, nunca encontrei um restaurante que sirva da maneira como experimentei lá, então, compro os ingredientes e me atrevo a fazer em casa.

Em São Paulo, você pode encontrar os ingredientes em alguns mercados no Bairro Liberdade. Também pode preparar com guiozás vegetarianos congelados.

Saiba como preparar:
Para o caldo, frite no azeite de oliva dois dentes de alho em lâmina, uma cebola pequena cortada em tiras largas com sal e pimenta moída na hora a gosto. Assim que der uma leve dourada, acrescente uma bandeja de cogumelos paris frescos inteiros (ou qualquer outro de sua preferência) e alguns shitakes desidratados em pedaços, deixe tostar até os cogumelos paris soltarem toda sua água e começarem a hidratar os shitakes secos. Deixe bem salgadinho.

Em seguida, acrescente água como se fosse fazer uma sopa. Adicione umas 3 colheres de sopa bem generosas de missô, uma colher de sopa de óleo de gergelim, um leve trago de mirin (saquê para cozinhar) e umas duas colheres de shoyo. Regule o sal e deixe ferver. Quando os cogumelhos secos estiverem cozidos, adicione meia bandeja de ervilhas tortas cortadas na diagonal e os dumplings. Deixe cozinhar por uns 8 minutos até a massa dos dumplings estiver cozida. Acrescente cebolinhas verdes fresquinhas e sirva finalizando o prato com moyashi (brotos de feijão). Fica um escândalo! Eu não consegui parar de comer até não ver o fim. Vale muito a pena!

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A miséria não mora aqui

A miséria não mora aqui

Quero pedir plenas desculpas para quem passou a noite no miojo. A partir de uma simples imagem, espero aguçar a imaginação dos que não conseguem visualizar o que um vegetariano pode comer fora do território do feijão, arroz e alface. Quero dizer, sem humildade, que o jantar foi maravilhoso!

Bife de soja marinado no caldo de aspargos e ervas, tostado no azeite com tomilho fresco e banhado no mirin e, finalmente, mergulhado em um molho branco estupendo feito de cebolas tostadas com ervas frescas e lâminas de alho ao creme de castanhas de cajú. Para dificultar ainda mais a situação, aspargos totados no azeite com sal grosso. Tomatinhos em lâmina para dar a refrescância devida.

Tentem fazer em casa e, se ficar como o meu, caiam de joelhos em câmera lenta.

Rigattoni ítalo-nipônico

É pessoal, engordar é uma arte! Nesse feriadão de Páscoa, me atirei de cabeça no maravilhoso mundo dos carboidratos, ressurgindo com toda a culpa cabível nessa segunda-feira de reflexão sobre as proporções do meu corpo. Um dos vilões foi um rigattoni de shimejis com azeite de ervas finalizado com pesto de salsa. Isso mesmo! Uma selvageria sem tamanho! Não comemos de joelhos porque a casa estava imunda, porque ao contrário, teríamos nos atirado sem medo no chão dessa casa.

Aconteceu assim: fervi a água com galhos brutos de louro e salguei como se fosse água do mediterrâneo. Numa panelinha singela, em fogo baixíssimo, cozinhei lentamente alguns dentes de alho cortados pela metade imersos em uma generosa quantidade de azeite extra virgem, junto com folhas de louro, osmarim, salsa e cebolinha frescas, sal e pimenta jamaica. Enquanto cozinhava na velocidade de uma lesma (sim, precisa ser em fogo bem baixo pra não saturar o azeite), fritei os shimejis com azeite, osmarim e cebolinha, já salguei pra eles soltarem bastante líquido, o qual misturei com o azeite de ervas. Quando os shimejis ficaram bem dourados e salgadinhos, dei um banho de mirin (saquê para cozinhar) e deixei dar uma secada de leve até o álcool evaporar e os shimejis absorverem o sabor do saquê. No final, misturei o azeite de ervas com os shimejis e remexi com os rigattonis cozidos al dente.

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Pra arrematar em alto estilo, fiz um pesto de salsa super simples e delicioso: um maço de salsa fresca, um dente de alho, o suco de um limão siciliano, sal, pimenta, azeite extra virgem a dar com pau e avelãs tostadas. Bati tudo no liquidificador e fui ser feliz!
Tente fazer em casa!

Importante: Não costumo dar quantidades das receitas, porque acredito que comida é feeling. Encaixotar as quantidades é o primeiro passo pra receita não ficar tudo aquilo. Prefiro dar noções e deixar o amor pelos sabores se manifestar em algo quase transcendental.

Ruína em tons de rosa

Um lugar de péssimo atendimento, mas de boas brusquetas. Assim é o Clube Flamingo, da rua Antônio Carlos, 395. Além de demorado, o atendimento não te oferece informações claras sobre o que é servido. Um ex-hare krishna nos atendeu e tivemos uma simpática conversa sobre vegetarianismo e veganismo. Além dele ter se mostrado um bunda mole quanto às suas convições, depois de quase 30 minutos de espera, conseguiu nos trazer uma batata (que no cardápio era descrita como “skin potato”) completamente recheada de queijo e bacon. Olhamos pra cara dele e perguntamos: Não acabamos de conversar sobre vegetarianismo e te informar que somos veganos? Não te perguntamos sobre a presença de ingredientes de origem animal nos pratos? A resposta dele foi um sorriso amarelo que resumiu a ignorância da humanidade num pedido sem graça de desculpas.

Mais 30 minutos de espera e nossas bruschetas chegaram. Boas, mas nossa irritação já estava no talo. Além disso, pedi um suco de uva com abacaxi que veio com tanto cravo e canela que parecia que eu bebia sagú batido no liquidificador. Um horror! As bebidas fáceis, como cerveja e Coca-Cola conseguiram chegar depois do suco, porque lembramos o garçom do pedido. Então, façam ideia do naipe de atendimento que estamos falando. O lugar tinha tudo pra ser bacana, mas vence a clientela no cansaço. Podem apostar que tem mais um estabelecimento correndo o risco de fechar as portas em pouco tempo por pecar com questões extremamente básicas. Se cuidem, pessoal descolado demais e profissional de menos.

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Poesia feita à mão

Nada melhor que juntar boa comida com arte (não posso ser limitado a ponto de não enxergar a comida como arte, mas entenda a sutileza desse comentário). Comecei meu dia assim, inspirado por esse vídeo maravilhoso que mostra o processo de produção de um pão italiano artesanal, desde o fermento. É lindo, delicado, mostra a relação da comida com o tempo que, junto consigo, traz a sabedoria da vida, que nos faz ver que o tempo das coisas vai muito além dos nossos desejos e da ansiedade que os envolve. Assista e olhe o mundo com um olhar mais delicado hoje.

Jantar luxo

É triste ser fino, minha gente. Tive uma semana realmente dura. Trabalho em doses cavalares, problemas em casa, na família, com amigos, notícias desconfortáveis… um verdadeiro nocaute para qualquer ser humano. Hoje, mais um dia cheio e a perspectiva de acúmulo de trabalho. Em resumo, meu saco encheu. Chegou no fim do dia e tudo que eu queria era algum prazer, sentir um sopro de vida e esperança no meio do furacão que rodeia essa carcaça exausta. Pra isso, nada melhor que um pouco de intimidade e boa comida. Num lampejo de pró-atividade, me lancei de pé e fui pra cozinha. Decidi fazer algo de diferente, algo gourmet, digno de regozijos e grunhidos.

Selecionei alguns legumes na geladeira e lembrei de uns escalopes à base de glúten e soja que a Vanessa comprou na Loving Hut, uma multinacional vegana que tem feito coisas gostosas. Abobrinhas, couve-flor, tomatinhos pêra (é o jeito que os feirantes chamam), cebolas pequenas cortadas em quatro e uma bela combinação de tomilho e louro frescos, raiz de cebolinha, flor de sal e um mix de pimentas (jamaica, branca e do reino) moído na hora para abraçar esses ingredientes. Coloquei tudo em uma travessa e deixei essa delícia dourada e brilhosa penetrar nos vegetais por um tempinho. Fiz o mesmo com os escalopinhos e tratei de esquentar a panela.

Em paralelo, meu homem seguia as orientações do titio cremoso e preparava o maravilhoso molho de mostarda que deu o acabamento do prato. Você coloca umas duas colheres de açúcar numa cumbuca com um tantico de água, até virar uma “caldinha”, sem deixar aguado demais, leva no microondas por um minuto, tira e mistura umas três colheres de mostarda em grãos, folhas de tomilho fresco, flor de sal e bastaaaaante azeite extra virgem. Misture, misture, misture até virar uma gloriosa emulsão dourada. Vai ficar mais doce que salgado, ácido, intenso, maravilhoso. Leve os legumes pra panela, menos os tomatinhos, pois você vai serví-los frescos, cortados na diagonal em três partes, no meio de todas essas delícias queimadinhas e com aroma de ervas. Inacreditável.

Sirva tudo organizadinho num prato grande e cubra o escalopinho com o molho de mostarda. Acenda velas e sirva alguém que você ama. Comecei pelo mais delícia do pedaço e terminei tendo outros deleites cozinhando novamente para a mais pecaminosa e sedutora moradora do local, que até preparou sanduíches com pães tostados na panela e esses quitutes para levar de almoço no programa cultural que vai tomar seu sábado de neo aleluia. Puro sucesso!

Hora do pavê!

Senhoras e senhores, já era hora de voltar a escrever nessa maravilhosa válvula de escape chamada Da Boca Pra Dentro. Longos dias de desaparecimento, regozijos existenciais, abusos da economia sobre a minha singela vida, decretos indecentes, revoltas, petelecos e outras coisas mais que, quiçá, um dia revelarei a vocês! Tudo isso, ouvindo Take my Breath Away…

Hoje é dia de pavê, que é pra começar e terminar bem esse regresso à boa casa das orgias gastronômicas. Me encho de chocolate e orgulho ao falar de uma das melhores sobremesas já feitas por mim e provadas pelo mais seleto público no sétimo andar de algum lugar da Vila Olímpia. O diferencial, dessa vez, se deu por uma calda extravagante de amoras e suco de tangerina. Vou ensinar pra vocês.

As amoras eram congeladas e estavam na geladeira há um certo tempo esperando por um destino digno. Cheguei em casa com meu homem, já com incumbência de construir um belo e obsceno pavê. Ele assumiu o café que banhou as clássicas bolachas Maria e as próprias camadas macias que se intercalaram entre os recheios.

Camada um, bolachas molhadas no café. Camada dois, ganache de chocolate belga coberta com lâminas de amêndoas. Camada três, bolachas molhadas no café. Camada quatro, creme estilo capuccino, feito com chocolate belga em pó (Callebaut), café, leite de soja abaunilhado, açúcar, farinha de arroz e um generoso pau de canela, pra dar o perfume e a indecência fálica devida ao creme. Camada cinco, mais bolachas molhadas no café. Camada seis, calda de amoras feita com as frutinhas batidas no liquidificador com suco de tangerinas frescas e açúcar. Vai ao fogo e deixa ferver até engrossar um tantico. Depois que esfriar, vira uma espécie de geléia brilhante e intensa, um pouco mais líquida que o normal. Camada sete, mais bolacha. Camada oito, novamente a libidinosa ganache de chocolate coberta com macadâmias e pistaches tostados.

A confecção dessa maravilha foi a mais plena manifestação de amor, dedicação e parceria. O doce que esquentou nossos corações, agora resfria na geladeira para ser saboreado com toda a pompa que um domingo salpicado de tradição e transgressão merece. Para os que insistem em perguntar o que um vegetariano ou vegano come, posso responder com alguma audácia: comemos tudo que exija um pouco mais de repertório e sensibilidade. Podem salivar e, sem pudores, tentar fazer em casa!